BlackBerry | Crítica

Gabriel Caiafa
3 min readOct 11, 2023

--

Uma aula de como a criatividade pode ser destrutiva alinhada com a ganância

4/5 — Ótimo

Gabriel Caiafa

A intensa necessidade da tecnologia estar sempre em desenvolvimento é um dos motivos que faz com que a história de um dos celulares mais importantes do mundo seja tão triste quanto feliz. E é exatamente essa montanha-russa que o filme faz o espectador sentir a cada decisão tomada pelos co-CEO’s da empresa.

Blackberry conta a história da incrível ascensão e do trágico declínio da empresa canadense que conquistou a liderança do mercado em 1996. A tecnologia criada por Mike Lazaridis (Jay Baruchel) e seu melhor amigo, Douglas Fregin (Matthew Johnson), aliada ao dinheiro e a experiência do empresário Jim Balsillie (Glenn Howerton), transforma completamente a forma como as pessoas se comunicam. Celebridades, políticos e empresários estão viciados em seus Blackberrys e o valor da empresa dispara. No entanto, em poucos anos, segredos obscuros, disputas pessoais e, o maior perigo de todos, a chegada do iPhone, ameaçam o incrível sucesso da companhia.

A direção de Matthew Johnson é um destaque a parte, trazendo em muitas cenas um estilo de câmeras parecido com o de “The Office” (2005/NBC), com zooms nos personagens, gravação ao estilo de documentário, piadas certeiras e muito bem colocadas e, além disso, ele interpreta brilhantemente o Doug, que é como se fosse, durante boa parte do filme, a voz ativa de Mike, um alívio cômico necessário e até mesmo traz a humanização empresarial que Jay Buruchel trouxe na época e que atualmente é muito discutido no mercado de trabalho.

Mike, por outro lado, sempre é mostrado como o tímido que é o inteligente, o visionário e o revolucionário. A peça que é a prioridade para o sucesso do novo celular. Porém, conforme o dinheiro vai entrando e a necessidade do mercado de sempre se renovar, fazem com que ele se contradiga e acabe se tornando uma versão que sempre detestou. Sua evolução passa de um nerd com um sonho, para um homem de negócios padrão.

Muito da transformação que Mike sofre, vem de Jim Balsillie, que conta com a atuação gigante e admirável de Glenn Howerton, sem dúvidas o grande marco do filme. É curioso ver a genialidade e a lábia de Jim no mundo dos negócios, mesmo com todas as segundas intenções e erros que ele comete ao longo do caminho. Sua história é muito parecida com a de Ray Kroc (Fome de Poder/2016), onde um empresário descobre uma fonte de lucro em uma ideia de pessoas que não conhecem o mundo corporativo.

Blackberry é um ótimo entretenimento para se conhecer mais da história do objeto que revolucionou o mundo, e, ao mesmo tempo, se divertir e encantar com as belas atuações que o elenco traz. Com 119 minutos que passam rapidamente e prendem o telespectador, o filme consegue resumir uma grande história com maestria e abrir portas para mais adaptações históricas da tecnologia assim como o próprio celular fez.

--

--

Gabriel Caiafa

Acredito que críticas podem ser acessíveis e não elitistas. Aqui, os meus textos tendem a ser com uma escrita descomplicada, porém técnica e sem spoilers!